Vida... Ela passa... Não a olhe da janela Ouse... Sonhe... Se iluda... Você pode Corra com ela... Olhe, abra os olhos Nem sempre há flores pelo caminho Não se acovarde Terás sol... Tempestades... Atravessarás, mares, desertos Caminhos por vezes, incertos Se estiveres em terra, ande Se em mar, nade Se cansares... Voe... Flutue... Toque seu banjo Seja anjo... Durma nas nuvens Brinque com estrelas Brilhe como elas Se aposse da serenidade da lua Quando pousares, precisarás dela... Não te alimentes de saudade Nem tenhas fome de futuro Seja o hoje teu alimento Teu sustento... E a vida passa Não vá atrás dela, mas, com ela Ame... Se enamore... Se apaixone por ela... Ema Machado

Enquanto você dormia, fui dia Irradiava energia cósmica Ultrapassei sombras, rompi auroras Enquanto dormias, gestei palavras, guarneci páginas Travei batalhas em versos Venci o tédio... E foi tanta energia Que nunca mais hibernei Tornei-me sol de primavera. Enquanto você dormia Fugiam de ti as ideias Quanto a mim, viajei por céus e terras Subi montes, verdejei serras Sementes frutificaram Dignificam minha aura Sou filha da luz Não ocultarei minha fala... E você, apenas dormias... Ema Machado

Ela possuía aroma de rosas Mas, não espinhos, não era flor Era exímia bailarina, bondosa… Como poucos, valseava na dor Seguia acordes da pobreza Silente, rodopiava Porém, com ela nunca se conformou… Ela compunha triste universo Nele, era a estrela mor Sabia brilhar, quando tudo parecia escuro Derrubava muros, para a luz passar Era a alegre bailarina das noites sombrias Envelheceu, a pobreza passou e ela nem percebeu A escuridão se foi, ela perdeu o passo Já não caminha sozinha, nem dança… Aqueles aos quais protegia, cresceram É ela agora, a criança O universo em que ela brilhava clareou, ela o esqueceu E o fulgor daqueles olhos brilhantes Lentamente se apaga, mas não o amor Ela ainda irradia, E exala aroma de flor…

Ema Machado

Não é preciso tropeçar, para enxergar pedras São tantas, ainda que não me acostume Algumas se tornam areia, enquanto outras, serras Nunca recebi flores, aspirava-lhes o perfume bebia-lhes a beleza e cores Olho sempre as estrelas, são como vaga-lumes Por vezes imagino, se não é lá minha casa Vivo de sonhos, sempre tive asas… O tempo não espera, muitas aspirações se fazem quimeras O ponteiro gira, a vida passa como vento Leva sonhos, bons e maus momentos E… Felicidade nunca me espera Quando criança, eu a via, uma fada de olhos negros Cresci, não realizou meus desejos Aprendi a correr atrás dela, tive bons momentos Muitos, carrego em segredos Mas ela se foi, e eu, permaneci a sua espera… Ah! Dizem, ser os poetas sonhadores Para mim, há aí uma dicotomia Tenho o dom de sonhar, mas, chega de “dores” De minhas pedras fiz um muro Guardei lembranças boas Sigo o curso do rio… Desliso em minha canoa…

Ema Machado

Na paz entoou cânticos ao vento Beija-a o sol, há harmonia nos sons, no momento Na paz encontrou um ser abençoado Alimentou- o de sonhos, de gratidão e preces Por caminhos esotéricos tem andado… Na paz vê, deitada em cama de marfim o encanto O mover do tempo, seu constante passo, em silencioso movimento Pode tocar-lhe o invisível, cria ou inventa o imperceptível Na paz, o mundo gira fugaz O tempo líquido escorre, molha, Deixa marcas sutis entre gozos de sossego Morto o tédio, triturado todo medo Aprecia a melodia das ondas Refaça-se a paz impregnada na alma, agradece ao criador desse momento…

Para você, meus pensamentos se voltam Confluem, todos em sua direção Em todas as palavras que escrevo Escoam sentires, são rios em profusão Por ti, fui ao deserto, queimei palavras vazias Em cada vírgula de afeto, meu coração em arritmia... Expressaria de forma indelével, o que anseias dizer Busco semânticas, nenhuma palavra parece servir Insuficientes aos propósitos, por fazê-la crescer  Não me bastam reticências, embora, as deixe aqui Tanto por dizer... nos dedos o ponto final O ponto pequeno que a mata... não deixe, que me cale... Sem você, sou metade... Carrego-a, poesia!  Que sejas em mim, imortal...

Ema Machado

Quando me dei conta, já era quarta-feira Não vi o sábado passar, passeei pelos domingos e nem me dei conta… Quando percebi, os rebentos não dependiam mais de mim Passeiam pelos domingos sem se preocuparem com as quartas-feiras. Preocupada com as segundas- feiras, pouco vivi. Fiz-me escrava do possuir, da rotina e de convenções Hoje, procuro alforria, arrefeci… Lá atrás, ficam as segundas e terças. Nos sábados, via apenas a euforia de viver, bebendo toda energia que pudesse ter. Tempos bons, mas, desperdicei muito, foram-se tantos sábados… Sigo, caminho para o final, muito longe dos sábados, dos domingos. Há muito, deles despedi, hoje aprecio um bom vinho, um poema e boas melodias. Não conto semanas, basta viver o dia, enquanto nascer…

Ema Machado

Se foi... deixando pegadas e lamento Partiu ao fim do outono, trazendo o inverno eterno Não há mais sol, flores encolhem ao contato do vento Saudade é vestimenta doída, sufoca aqui dentro... Folhas soltas, levam meus pensamentos Fostes meu sol de primavera, estrela mor de meu firmamento E agora, tudo tão estático e gélido Algo mais partiu como você, percebo... A felicidade, por saber que não terei teu colo a me aquecer Serei raiz sem solo, ou folha, que se perdeu do tronco Levada pelo vento Agonia desperta, por não mais poder tocar tua face E antes que todo verão se acabe, sei que Meu sorriso será amarelo, perderá o sabor Em cada outono...

Ema Machado