A culpa ilegítíma produz uma carga neurotizante com alto poder adoecedor. Dentre outras patologias, ela pode levar à depressão. Isso nasce, em grande parte, de uma cultura do perfeccionismo que aparece nas interações da vida cotidiana e nas expectativas sociais. Pode ter, no entanto, também a influência de um crivo moral equivocado de base religiosa.

Por isso, seguimos refletindo a partir da seguinte questão: É possível desfuncionalizar um quadro neurotizante de culpa ilegítima? Como?

A culpa legítima funciona como um alarme moral diante de uma de uma transgressão cometida. Ela pode ser um ponto de partida para o arrependimento e a auto correção, quando corretamente identificada e utilizada de modo saudável. Já a culpa ilegítima leva a pessoa a carregar fardos que não precisaria (e não deveria). Ela nasce de interpretações distorcidas a respeito de transgressões ou falhas que não poderiam ser, de fato, assumidas. Seu potencial neurotizante, portanto, é alto.

Este episódio parte das seguintes perguntas: É possível desfuncionalizar um quadro neurotizante de culpa ilegítima? Como?

O que é a culpa? Este episódio continua tratando do problema da culpa, com foco na antropologia da culpa humana em sentido individual.

O tema "conversão e o processo de cura da depressão" foi tratado extensamente nas conversas dos episódios #030 ao #037. Que outros temas psicoantropológicos aparecem nesse cenário pensado até aqui (do mundo da vida impactado pela depressão)? O perdão é um desses temas. Para falar de perdão, no entanto, é necessário tratar do problema da culpa. Iniciamos aqui uma nova sequência abordando e procurando esclarecer questões relacionadas à culpa e à proposta de uma ética do perdão fundada na fé cristã.

A conversão (metanoia) representa uma virada para um novo estilo de vida onde se recupera o que foi estragado na biografia da pessoa até esse ponto de ruptura. Na conversão nasce o que é fundamental para se curar a vida (e curar a depressão): uma fé sadia. A fé sadia sustenta a vida, mesmo quando não somos poupados das aflições, perdas e tristezas da realidade deste mundo.

Esta é uma breve síntese da sequência de conversas sobre a conversão e o processo de cura da depressão.

A cura pela fé não pode se basear nas falsas promessas de uma vida feliz no presente. A ação da providência divina não nos poupa dos estragos que sofremos na nossa história. Ela age de forma dialética, no negativo e no positivo, nos conduzindo numa caminhada da maturidade (e de curas), mesmo através dos estragos sofridos. A fé convida, portanto, para uma vida sem medo de sermos feridos. Ela nos "conserta" (traz as curas que precisamos) mesmo através dos estragos. Falamos de uma fé que olha de modo projetivo para o futuro (esperança), na confiança de que o Pai que nos ama nunca nos abandona. Ele pode renovar todas as coisas, inclusive a cada um de nós.

Na fé, temos certeza de que a vida é viável. O olhar depressivo enxerga o oposto disso, sustentando a certeza de que a vida não é viável. A fé malogra essa certeza negativa e traz a vontade de viver. Na depressão, o olhar para o futuro é paradoxalizado. A fé torna a relação com o futuro mais simples, desparadoxalizando a perspectiva de vida.

Neste curto episódio, seguimos a sequência de conversas sobre a proposta da fé cristã para a cura definitiva da depressão.

Seguimos no esforço de tornar clara a proposta da fé cristã para abrir novos caminhos para os que estão sofrendo com a depressão. Queremos promover a cura definitiva, que encerra a doença.

O que queremos dizer quando propomos a fé como cura para quem sofre com a depressão? Acreditamos em duas possibilidades:

1) Primeiro, a cura pela via direta: oramos e Deus pode simplesmente ouvir e atender, tocando a pessoa e curando-a sem a necessidade de qualquer tipo de ação humana;

2) A cura através da análise cuidadosa e gradual da própria vida buscando a compreensão do processo que levou à depressão. Tendo compreendido esse processo, a fé apresenta um sistema de crenças e valores que permite a reinterpretação da própria experiência e a abertura de um novo processo terapêutico. Na confiança da fé, a interpretação da própria biografia e das experiências que a compõem, são profundamente ressignificadas.

A fé cristã oferece propósito e gosto pela vida. Isso se sobrepõe, na caminhada, às experiências negativas, traumas, fracassos, perdas e frustrações. Esse é o antídoto contra a depressão.