Selva de letrinhas  Por  arte de portada

Selva de letrinhas

De: Felipe Simão
  • Resumen

  • Felipe Simão, conhecido por ser polêmico, pelo seu senso de humor ácido e cretino, por não ter papas na língua e sair proferindo impropérios a quem quiser ouvir, e até mesmo para quem não quiser; resolveu se desafiar e escreveu um livro infantil de poesias, totalmente livre de palavrões, de obscenidades ou de bizarrices, mostrando que no seu coração de poeta maldito também há espaço para doçura.

    Hosted on Acast. See acast.com/privacy for more information.

    Felipe Simão
    Más Menos
activate_primeday_promo_in_buybox_DT
Episodios
  • 23 - O menino
    Jun 26 2024

    Como eu, um homem tão defeituoso,

    consigo escrever linhas tão lindas,

    às vezes eu queria

    que a vida fosse como um papel em branco,

    sem todas as cicatrizes,

    as rugas,

    os amassados,

    as marcas que me monstrificam,

    assim seria leve como uma pluma,

    como as pétalas duma flor,

    arrancadas uma a uma

    numa brincadeira de bem-me-quer,

    flutuando no ar,

    poderia voltar a ser criança

    e ser o que eu quiser;

    saudoso tempo

    em que eu era o dono do mundo,

    era eu que tingia seus contornos,

    tudo tinha o significado que a minha mente quisesse dar,

    eu construía

    carros e caminhões,

    helicópteros e aviões,

    criava máquinas,

    que até hoje o homem desconhece,

    com madeira e papelões

    As portas foram se fechando para aquele menino,

    a batida mais seca

    foi na entrada da felicidade,

    ela se fechou antes mesmo que ele pudesse tocar a maçaneta,

    tamanha maldade,

    antes que outra passagem se abrisse

    o chão desapareceu

    e o garoto caiu num buraco negro,

    foi lançado em águas nebulosas

    e viu espicharem seus braços e pernas,

    nadando num mar de perversidade

    Talvez o menino ainda esteja vivo,

    feito sua morada num coração de pedras,

    onde o xisto não deixa brotar nem uma tiririca,

    mas ele transforma as rochas em sonhos,

    o músculo venoso palpita pondo pedregulhos para voar;

    o toque desse menino tem poderes

    que dispensam a gravidade

    e todas as coerções da realidade,

    o infante caminha por infinitas escadarias,

    vagaroso,

    observador,

    contempla borboletas e paisagens

    que só os seus olhos são capazes de ver;

    saem saltitantes de sua boca,

    as letras que ele inventa,

    que nunca deixou de criar,

    os seus universos erguidos

    para se abstrair do próprio olhar,

    que ressoam muito além dos ouvidos

    e do que podem as conchas marítimas captar,

    a doçura dos odores e das delícias

    que não passam pelas narinas

    e tampouco se entregam ao paladar;

    inúmeros são os seus truques,

    seus segredos de encantar,

    o garoto dispensa as mãos

    e não pára de desenhar,

    sua voz é luminosa

    e ele nunca esqueceu de cantarolar

    O monstro anda penoso,

    carrega os dias nas costas

    até o encontro de seu fim,

    quando se apagarão todas as mazelas

    no efeito da luz branca

    que me cegará,

    chegado o momento em que me parto

    como todos, um dia eu irei,

    mas o menino ficará


    Hosted on Acast. See acast.com/privacy for more information.

    Más Menos
    4 m
  • 22 - A poesia me pegou pelo pé
    Jun 26 2024

    Nunca pensei em ser poeta,

    a poesia me pegou pelo pé,

    abriu-se em mim uma fonte de palavras

    que jorram ao longe como as águas dum igarapé

    A poesia me pegou pelo pé,

    com uma brincadeira de rimas,

    por deboche,

    eu que desprezava suas obras-primas,

    virei seu fantoche

    e hoje por suas linhas me abro,

    descrevo meu lado puro

    e o macabro,

    saem pulsando pela ponta do lápis

    sentimentos,

    sensações,

    emoções que nem eu entendo;

    só saio escrevendo,

    deixo versos por aí,

    como se fossem migalhas de pão,

    como fizeram Maria e João,

    são caminhos que não sei refazer

    Nem surreal,

    como o filho do diabo

    nem engravatado,

    como um homem normal

    sou um artista,

    não aquele que penso,

    mas aquele que sinto,

    aquele que tanto neguei,

    que hoje me carrega pelas trilhas que não tracei,

    estradas que me fizeram sair do meu próprio labirinto

    A poesia me pegou pelo pé,

    a comédia me pegou pelo pé,

    o teatro me pegou pelo pé,

    a música me pegou pelo pé,

    eu nunca escolhi nenhum deles,

    já estavam dentro de mim,

    esperando a hora de sair,

    me pegaram pé

    e eu agora não tenho mais pés

    para fincar no chão


    Hosted on Acast. See acast.com/privacy for more information.

    Más Menos
    1 m
  • 21 - Desenhista
    Jun 26 2024

    Se a minha casa estivesse pegando fogo,

    e por desafogo

    eu só pudesse salvar um objeto,

    levaria comigo uma caneta,

    qualquer que fosse,

    só para me lembrar,

    que não importa o que aconteça,

    o evento mais terrível, o mais abjeto

    não pode me impedir de escrever,

    me fazer parar,

    eu sou um desenhista,

    os meus rabiscos são palavras

    que traçam sonhos,

    pois não dá para viver

    deixando de sonhar


    Hosted on Acast. See acast.com/privacy for more information.

    Más Menos
    1 m

Lo que los oyentes dicen sobre Selva de letrinhas

Calificaciones medias de los clientes

Reseñas - Selecciona las pestañas a continuación para cambiar el origen de las reseñas.