• 09 Apresentação Yanomami
    Nov 8 2023
    Yanomami
    Roraima e Amazonas, Venezuela
    Tempo de contato – mais permanente há cerca de 70 anos
    Língua Yanomami
    Aproximadamente 28 mil (no Brasil)

    Os Yanomami, em seus diversos subgrupos que se deslocam e criam suas aldeias
    nas florestas do extremo norte do Brasil, talvez sejam o último grande grupo
    humano vivendo de forma tradicional e livre, com seu conhecimento, sabedoria e
    arte à semelhança de seus ancestrais criados por Omame.
    Durante milhares de anos viveram com saúde, desenvolvendo suas tecnologias da
    floresta, sem nenhuma dependência do mundo que se agitava e se fechava em
    torno de suas aldeias. Referências sobre eles existem em relatos desde o começo
    do século XX, mas a pressão dos “nape” – os estrangeiros/inimigos – só chegou de
    forma avassaladora e destrutiva nas décadas de 1960 e 1970, os anos de ditadura,
    quando o governo decidiu ocupar “o grande vazio” da Amazônia sem enxergar as
    populações que ali construíam sua humanidade. Centenas de homens, mulheres e
    crianças morreram vítima de epidemias e balas, centenas de quilômetros de rios e
    florestas foram e ainda são destruídos pelos garimpos. A grande crise que hoje nos
    envergonha já se abateu outras vezes sobre esse povo. E não são essas imagens
    de fragilidade e dor que representam o povo Yanomami. Elas revelam a ignorância,
    a ganância e a desumanidade dos nape.
    Os Yanomami são belos, fortes, sábios. Enfeitam-se de plumas e pinturas de
    urucum, cultivando roças e manejando a floresta, construindo casas monumentais
    no meio da mata com sua arquitetura fantástica. A alegria das crianças, as grandes
    cerimônias rituais, as narrativas e cantos são o legado desse povo que mantém o
    céu suspenso com suas pajelanças para o bem de todos nós.
    Nagakura-san esteve na aldeia do Demini com Ailton Krenak por duas vezes.
    Encantou-se com a sabedoria do povo, com a alegria das crianças e o profundo
    conhecimento do grande líder Davi Kopenawa Yanomami.
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    3 mins
  • 08 Apresentação Ashaninka
    Nov 8 2023
    Ashaninka
    Vale do rio Juruá – Acre e Peru
    Tempo de contato: cerca de 120 anos
    Tronco linguístico Aruak
    Aproximadamente 3 mil pessoas (no Brasil)

    O povo Ashaninka já habitava um vasto território de florestas entre o Acre e o Peru,
    no Alto Rio Juruá, muito antes de se erguerem as fronteiras dos países que se
    apossaram dessa região. As famílias que se estabeleceram ao longo dos rios do
    Alto Juruá, como o Amônia e o Breu, também sofreram, como outros povos do Acre,
    a invasão dos seringalistas no final do século XIX, começo do XX. Guerreiros
    fortalecidos em sua tradição e identidade, não se deixaram escravizar, mantendo
    sua cultura e independência, apesar de todas as investidas. A população cresceu,
    áreas depredadas por invasores foram recuperadas, os cuidados com o território
    renderam frutos, caça, peixe e muita fartura.
    Em conexão com os ensinamentos ancestrais, o sábio povo Ashaninka criou
    estratégias de enfrentamento e alianças com os não indígenas que chegaram a seu
    território. Desenvolveram parcerias, equiparam as aldeias com tecnologia de
    comunicação e monitoramento para controlar as invasões de madeireiros e outras
    ameaças à vida das pessoas e de todos os seres que ali habitam.
    Seu traje tradicional – a kushma, tecida em algodão pelas mulheres –, os colares de
    sementes e plumas cruzados no peito, o chapéu-cocar trançado com palha de
    palmeira e adornado de penas de arara dão identidade a esse povo orgulhoso e
    senhor de seus caminhos. Nos rituais da ayahuasca o povo recebe ensinamentos e
    decide seu futuro.
    Nagakura-san se encantou com esse povo alegre e confiante, com seus projetos de
    autonomia e sua música, e principalmente com a generosidade e a acolhida
    calorosa. As imagens revelam o povo em seu cotidiano.
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    2 mins
  • 07 Apresentação Yawanawá
    Nov 8 2023
    Yawanawá
    Acre – rio Gregório (também no Peru e Bolívia), município de Tarauacá
    Tempo de contato – aproximadamente 150 anos
    Tronco linguístico Pano
    Aproximadamente mil pessoas

    O povo Yawanawá é o povo da queixada. Vive às margens do rio Gregório, nas
    muitas curvas que ele faz cruzando as florestas onde antes era apenas território
    tradicional e hoje é o município de Tarauacá, no Acre.
    Os Yawanawá vivem um intenso momento de fortalecimento de sua cultura e dos
    conhecimentos tradicionais depois de passarem, do começo do século XX até os
    anos 1970, por um período de escravidão e apagamento, quando os seringalistas
    ocuparam os territórios e subjugaram as populações tradicionais do Acre.
    As casas cobertas de palha, com piso e esteios em paxiúba, palmeira de madeira
    resistente e escura, são espaços amplos e abertos para a natureza, lugar de
    convivência e aprendizado, de construção da cultura e relação com o mundo
    espiritual.
    Depois de se reconhecerem e serem reconhecidos como um povo originário,
    conquistando a demarcação de seu território, buscaram recuperar e fortalecer as
    tradições proibidas por tanto tempo. Hoje buscam divulgar sua cultura e
    espiritualidade, convidando os não indígenas a conhecerem seu modo de vida e
    participarem de suas cerimônias que reúnem jovens e anciãos de várias aldeias em
    celebrações vigorosas.
    As reclusões de iniciação espiritual envolvem dietas e ingestão de plantas de poder
    que dão os ensinamentos por meio de visões e sonhos. Os rituais de cura envolvem
    o Uni, como chamam a ayahuasca.
    Nagakura-san visitou a aldeia Yawanawá com o amigo Ailton Krenak, quando
    conviveu com o povo em dias de festa e alegria registrados em suas imagens.
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    2 mins
  • 06 Apresentação Huni Kuin – Kaxinawá
    Nov 8 2023
    Huni Kuin – Kaxinawá
    Rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus, Acre, Amazonas e
    Peru
    Tempo de contato: cerca de 120 anos
    Tronco linguístico Pano
    População: aproximadamente 10 mil pessoas

    O povo Huni Kuin viveu tranquilo nas bacias dos rios Juruá e Jordão até o final do
    século XIX, quando a borracha se tornou artigo valioso e cobiçado, e os povos
    nativos, que conheciam e floresta e tinham o domínio da extração do látex, foram
    escravizados pelos patrões de seringa, no que chamam de tempo da “correria”. A
    partir da década de 1970 começam a viver o tempo do renascimento, quando
    recuperam a tradição adormecida durante décadas de escravidão e violências e se
    afirmam em sua identidade.
    Os Huni Kuin – “gente de verdade” – são conhecedores profundos da ciência da
    floresta transmitida aos ancestrais pelos Yuxin, os espíritos/encantados, e através
    da sabedoria do Nishi Pay – a ayahuasca. Assim, têm tudo de que precisam para a
    vida na floresta: a medicina, a cura, o cultivo dos alimentos, a habilidade da
    arquitetura e da navegação.
    As mulheres são as donas dos Kenes, os desenhos tradicionais do povo Huni Kuin,
    transmitidos por Yube – a Jiboia – e expressos na arte de tecer, pintar o corpo, fazer
    cestaria e panelas de barro. A tecelagem, transmitida por Baxem pudu, a Aranha,
    transforma os fios de algodão tingidos com as tintas da floresta em redes, adornos e
    nas roupas tradicionais do povo.
    Nagakura-san subiu o rio Tarauacá até quase a divisa com o Peru, em dias de
    navegação em tempos de seca. Na aldeia, o fotógrafo se alegrou com as crianças e
    mulheres em seus trajes tecidos com as cores da floresta.
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    2 mins
  • 05 Apresentação A’uwê Uptabi – Xavante
    Nov 8 2023
    A’uwê Uptabi – Xavante
    Mato Grosso
    Tempo de contato: 75 anos
    Tronco linguístico Macro-jê
    Aproximadamente 23 mil pessoas

    O povo Xavante se autodenomina A’uwê Uptabi – “gente verdadeira”. É guerreiro e
    caçador. Vive nos vastos campos do cerrado, desde que os ancestrais
    atravessaram o rio das Mortes há quase 200 anos. Resistiram bravamente à
    entrada das frentes de atração na década de 1940, atacando com flechas e
    bordunas os aviões que sobrevoavam a aldeia. A pacificação dos “warazu” – os
    estrangeiros – se deu a partir de 1946, durante a Grande Marcha para o Oeste,
    iniciada no governo de Getúlio Vargas (1930-1945).
    Apesar de terem nove Terras Indígenas demarcadas, em diferentes municípios do
    estado do Mato Grosso, cada uma delas lida com diferentes ameaças ao patrimônio
    físico e cultural, com interferência de religiões, agronegócio, projetos de
    desenvolvimento e avanço das cidades.
    Os A’uwê são de uma linhagem antiga, vieram da raiz do céu. Os homens usam o
    brinco e a gravata cerimonial de algodão. Homens e mulheres se pintam com
    jenipapo, carvão e urucum, tiram as sobrancelhas e os cílios, usam cordinhas nos
    pulsos e pernas. O corte de cabelo, os adornos e pinturas dão identidade ao povo
    Xavante que segue praticando seus rituais de formação dos jovens e iniciação
    espiritual. O sonho direciona a vida, dá o rumo, a orientação, responde a todas as
    questões. É no sonho que chegam os cantos, transmitidos pelos ancestrais e
    partilhados com todo o povo da aldeia.
    A cerimônia de furação de orelha é um marco para toda a comunidade. Acontece a
    cada 5 anos, quando os meninos que ficaram reclusos na casa dos solteiros
    completam seu aprendizado dos princípios da tradição.
    Nagakura-san ficou impressionado com a força e determinação do povo e com o
    sentido de vida coletivo. As imagens revelam essa admiração nas danças circulares
    e no grupo de homens deitados no pátio central, reunidos para sonharem juntos.
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    3 mins
  • 04 Apresentação Krĩcatijê – Krikati
    Nov 8 2023
    Krĩcatijê – Krikati
    Maranhão
    Tempo de contato: 250 anos
    Tronco linguístico Macro-jê, Família Timbira
    População: cerca de 1.200 pessoas

    Os Krĩcatijê – “aqueles da aldeia grande”, como se autodenominam os Krikati – são
    um povo guerreiro. Pertencem à grande família dos Timbira. Mesmo com mais de
    250 anos de contato com os colonizadores que ocuparam essa região do Maranhão
    com disputas e violências, esse povo luta bravamente para manter seu território
    tradicional e sua cultura.
    A Terra Indígena Krikati, demarcada nos anos 1990, está localizada nos municípios
    de Montes Altos e Sítio Novo, a sudoeste do estado, nas bacias dos rios Tocantins e
    Pindaré-Mearim.
    Apesar de demarcado, o Território sofre invasões e depredações do patrimônio
    natural, havendo até mesmo projetos governamentais de desenvolvimento, como a
    construção de linhas de transmissão de energia no Território, sem consulta nem
    estudos de impacto. O povo Krikati se mobiliza para proteger a terra e suas
    tradições.
    Toda a vida da aldeia se divide em dois grandes tempos: o tempo das chuvas,
    quando acontecem os rituais ligados à fartura e à natureza, e o tempo da seca,
    quando acontecem as cerimônias de iniciação dos jovens.
    Os cantos são o eixo das cerimônias que reúnem o povo em torno da grande árvore
    “barriguda” no centro da aldeia principal de São José. A força vem do canto coletivo,
    do movimento vigoroso do maracá nas mãos do puxador, das vozes de homens e
    mulheres ecoando no cerrado durante a noite toda. As coreografias da dança e os
    corpos pintados de jenipapo e urucum imitam os movimentos e as formas da
    natureza.
    Nagakura-san se apaixonou pelo povo Krikati, por sua beleza e espontaneidade,
    resiliência, bravura e doçura. Visitou a aldeia em três ocasiões diferentes.
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    2 mins
  • 03 Apresentação Akrãtikatêjê – Gavião da Montanha
    Nov 8 2023
    Akrãtikatêjê – Gavião da Montanha
    Pará
    Tempo de contato: mais intensivo a partir de 1920
    Tronco linguístico Jê, língua Timbira
    População: aproximadamente 800 pessoas

    O povo conhecido como Gavião, habitante das margens do Tocantins, passou a
    sofrer com o avanço dos “kupen” – estrangeiros/brancos – no final dos anos 1930,
    quando o interesse pela castanha mobilizava empresários e políticos na região de
    Marabá. O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) tentou por vários anos a
    pacificação desse povo guerreiro para evitar que fosse dizimado pela população
    local. Os choques violentos com os invasores e as mortes por epidemias reduziram
    o povo a 30% de sua população original. O contato do SPI com os grupos Gavião só
    aconteceu a partir do final da década de 1940.
    Depois veio o tempo de exploração da mão de obra dos indígenas na coleta da
    castanha pelo próprio SPI e, a partir da década de 1970, pelas grandes obras do
    governo militar, que mais uma vez impactaram a vida e a cultura desse povo
    guerreiro.
    Seu território foi cortado por estrada, ferrovia e linhas de transmissão de energia, e
    aldeias foram alagadas pela hidrelétrica de Tucuruí. Foram décadas até que eles se
    reerguessem e retomassem os rituais, as festas, o orgulho de sua identidade, a
    alegria de viver.
    Nagakura-san visitou a aldeia de Mãe Maria, onde fez poucos registros fotográficos.
    A única imagem do povo Gavião da Montanha nesta exposição retrata o grande
    líder Payaré com seu filho e uma sobrinha, num barco, no grande lago de Tucuruí,
    sobre sua antiga aldeia submersa.
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    2 mins
  • 02 Texto Institucional - HN até a Amazônia com AK
    Nov 8 2023
    HIROMI NAGAKURA ATÉ A AMAZÔNIA COM AILTON KRENAK

    Em agosto de 1993 deu-se o primeiro de muitos encontros que uniriam dois
    caminhos aparentemente tão diversos. Hiromi Nagakura, fotógrafo japonês, havia
    chegado recentemente ao Brasil para mais uma de suas viagens. Ainda não
    conhecia pessoalmente o ativista indígena Ailton Krenak, mas ao tomar contato com
    as imagens do discurso emblemático do futuro amigo na Assembleia Constituinte (4
    set. 1987), almejou tê-lo como parceiro e interlocutor em sua busca pelas diferentes
    etnias dos povos originários brasileiros.
    Além da distância geográfica, a barreira do idioma também parecia ser um entrave
    para esse encontro. Eliza Otsuka, intérprete de Nagakura, foi responsável pela
    aproximação desses universos, participando a partir daí de uma série de percursos
    realizados em conjunto, embriões de uma longeva amizade.
    A exposição agora apresentada ao público brasileiro traz uma seleção única de
    registros realizados pelo grande fotógrafo japonês nos anos 1990 por meio de
    diversas expedições aos estados do Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São
    Paulo e Amazonas. Juntos, Krenak e Nagakura puderam aproximar-se, conviver e
    registrar a cultura dos povos Krikati, Gavião, Xavante, Huni Kuin, Yawanawá,
    Ashaninka e Yanomami.
    Com curadoria de Ailton Krenak, a mostra ocorre no ano de comemoração do 80o
    aniversário de Hiromi Nagakura, em uma possibilidade singular de percorrer uma
    das veredas de sua potente trajetória no fotojornalismo internacional.
    Agradecemos primeiramente a todo o povo das aldeias, homens, mulheres e
    crianças que receberam Hiromi Nagakura e Ailton Krenak em suas casas com
    generosidade e alegria: Watorik (Yanomami), São Pedro (Xavante), Mãe Maria
    (Gavião), São José (Krikati), Nova Esperança (Yawanawá), Apiwtxa (Ashaninka) e
    São Joaquim (Kaxinawá). Agradecemos também a Claudia Andujar, Laymert Garcia
    dos Santos e Lilia Schwarcz pela contribuição excepcional por meio de ensaios
    dedicados a esse encontro de saberes; e a Angela Pappiani, Eliza Otsuka e Priscyla
    Gomes pela dedicação e assistência na curadoria deste projeto.
    Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak não seria possível sem o
    patrocínio expressivo do Banco Bradesco, que apoiou com confiança esta iniciativa,
    e sem a ativa parceria da Aché, da Meta Brasil e do Boston Consulting Group. O
    Instituto Tomie Ohtake agradece ao Governo do Estado de São Paulo, por meio da
    Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, e ao Ministério da Cultura, via
    Lei de Incentivo à Cultura, Programa de Ação Cultural, Brasil, União e Reconstrução
    – Governo Federal.
    Instituto Tomie Ohtake
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